Diário de Bordo - Sérgio

 

10/02/2007

Puxa! Um ano e dois meses de viagem! Para ser sincero, quem lembrou foi a Carol e no final da tarde, quando ia fazer o diário. Hoje, assim que acordamos, começamos a pescar. O tempo estava muito nublado e não conseguíamos ver a ilha de Cabo Frio e quase não conseguíamos ver o morro da praia do Forno. Já escutei falar de algumas névoas fortes por aqui, mas nunca tinha presenciado uma. Enquanto as crianças tentavam pegar algum peixe, fiz nosso café da manhã bem reforçado. A Carol teve sorte e pegou uma corvina de meio quilo. O restante foi apenas papa-iscas e dois baiacus-de-espinho, que não se come. Logo, fomos para a praia e o dia ficou magnífico, de céu azul e muito sol. Talvez a praia do Forno seja a mais “caribenha” do nosso litoral (sem contar com as praias das ilhas oceânicas), diferenciando-se apenas na temperatura da água. Novamente, fui para a cidade comprar mais camarões (para comer e pescar – mais comer do que pescar!) e acessar a internet num hotel para ver a previsão do tempo, pois sem celular não temos conexão de internet no barco. A previsão foi ruim e não poderemos sair daqui amanhã, como eu pretendia. Em compensação, quando retornei para a praia e falei que iríamos ficar mais alguns dias aqui, a resposta foi: “- Obaaa!!!”. Aproveitamos bastante a praia, que estava cheia de gente por ser sabadão, dia de passear. Muitos barcos de turismo estavam pela praia, mas já não estavam encostando tanto nela, pois a Marinha está de olho nos abusos. As crianças brincaram bastante com outras crianças que estavam na praia e tomamos um ótimo açaí de um vendedor muito simpático, com o qual ficamos conversando um bom tempo. Quando chegou o meio da tarde, retornamos ao “Fandas” para pescar mais e fazer nosso almoço. Limpei o peixe que a Carol pegou de manhã (deu três postas modestas, mas serviu para dividir para todos experimentarem) e fiz uma “moqueca a la Sérgio” com o camarão. Ficou melhor que ontem, pois caprichei mais no tempero. Comemos tudo!!! A Carol pegou um pequeno linguado e o soltamos, pois o almoço já tinha sido feito e eu não queria fazer mais peixe hoje. O amigo Paulo passou num barco e ficou de voltar amanhã! Que bom! Queríamos muito vê-lo. Descansei um pouco, tomamos banho e as escunas de turismo foram embora ao final da tarde. Começamos a fazer nossas obrigações, com sossego e tranqüilidade e nos estendemos até tarde. Selecionei as cartas náuticas para o próximo trecho e, cada vez que faço isso, vejo como estamos cada dia mais perto de nosso destino. No começo da viagem, eu as selecionava com muito entusiasmo, doido para ver os lugares que nos esperavam e como chegar lá, mas também com um pouco de medo do desconhecido. Agora, o entusiasmo é menor, mas o sentimento de estar cada vez mais perto de casa não deixa de ser gostoso também. Um ano e dois meses atrás eu não podia nem imaginar o que estou sentindo agora, mas já podia prever o conflito de sentimentos na nossa volta.

 

11/02/2007

Acordei com o sol iluminando meu rosto, sinal de que o barco estava virado ao contrário, de proa para a praia e popa para a ilha de Cabo Frio. O vento havia mudado e já soprava de sudoeste, indicando que a frente fria já está chegando. Tomamos um ótimo café da manhã e depois fomos mudar o barco de lugar, mais para perto da praia, onde é mais abrigado do sudoeste. Levantei as âncoras (foi mais fácil do que eu imaginava) e aproveitei para colocar a corrente que eu havia comprado em Arraial. Quando estava colocando os seis metros de corrente, tive uma surpresa: um bom metro da corrente estava preso ao restante dela por um araminho de fechar sacos de pães! Se eu não percebesse isso, estaríamos numa roubada, pois as duas âncoras iriam se perder e o barco ficaria solto! Como o vendedor ou fornecedor teve a “grande” idéia de emendar a corrente com aquilo, eu não sei, mas os prejudicados (e bem prejudicados) seríamos nós. Prendi os cinco metros de corrente na âncora bruce e o metro restante na fortress, lançando-as em linha novamente. Coloquei o motor no bote e fomos para a praia, que já estava cheia de gente por ser domingo. Tomamos banho de mar, as crianças ficaram brincando com barquinhos e fazendo castelos de areia e a tarde transcorreu gostosa. Comemos empadas, açaís novamente e a Carol descobriu uma vendedora de saladas de frutas, que ela gosta mais. O Paulo, infelizmente, não apareceu e a Marinha ficou novamente vistoriando e orientando vários barcos. Eu fiquei observando as pessoas na praia. “Tribos” muito heterogêneas aproveitavam sua praia, seu churrasco, sua cervejinha e o ambiente era de alegria total. Apesar de acontecerem muitas brincadeiras, não vi nenhuma confusão e o clima era de descontração total. Muitas nuvens de chuva começaram a chegar e o tempo começou a esfriar. Retornamos ao barco um pouco antes de começar a chover e logo cuidei do almoço: carne seca assada na panela de pressão com cebola, alho e tomate, arroz com ervas e as primeiras batatas fritas da viagem, a pedido das crianças! Já havíamos comido batatas fritas industrializadas, pois nunca quis me aventurar a fazê-las no barco. Como eles pediram com muito “afinco” ontem, resolvi fazê-las hoje. Comemos tudo e não sobrou nada para os peixes. Acabamos o dia lendo, estudando e fazendo diários. O Jonas acabou seu estudo logo e tivemos um bom “atrito” para que ele aproveitasse e adiantasse mais algumas páginas. É difícil fazer com que os argumentos vençam a preguiça e também ensiná-los que imprevistos acontecem e que, nesta noite chuvosa, ele pode adiantar estudos para aproveitar melhor um outro dia.

 

12/02/2007

O dia amanheceu nublado e ficamos na cama até as dez e meia da manhã. Após o café da manhã, resolvemos dar um pulo até a praia dos Anjos para usar internet e telefonar. Erguemos a âncora e havia tanta vegetação pendurada nela que achei que havíamos perdido a âncora fortress, que estava na ponta. Tirei uns quatro quilos de vegetação e achei o cabo da fortress. Rapidamente chegamos na praia dos Anjos e ancoramos atrás de todas as escunas. Liguei o computador e vi a previsão de tempo, que promete dia bom para travessia na quarta-feira. Respondi e-mail’s e atualizei nossa página na internet enquanto as crianças brincavam com um joguinho que inventaram: “Aventura Oceânica”. Pouco depois, aparecia o amigo Edgar na lancha “Leg 10”. Conversamos bastante, contamos um pouquinho de nossa viagem e fomos convidados para ver o farol da ilha de Cabo Frio amanhã. Quando ele se foi, fomos até a cidade e almoçamos lá. Aproveitei ainda para comprar umas coisas de mercado que acabaram, cortei meu cabelo e aparei a barba (quero chegar descente na Ilha – rsrsrs!). As crianças aproveitaram e ligaram para o avô, além de comprarem o “Mineirinho”, refrigerante que estavam com vontade. Vamos tentar gelá-lo nas águas de Arraial. Quando retornávamos para o barco, uma chuva nos pegou e nos protegemos num barco de passeio, ao lado do qual estava amarrado o bote. A chuva foi “baiana” (rápida!) e pudemos retornar ao “Fandas” logo. Fizemos nossos diários, estudos e todas as obrigações, indo dormir cedo para passear amanhã. A Carol acabou de estudar todos os livros e agora vamos começar a fazer um resumo para ela estudar para a prova de reclassificação. Após a chuva começou um cheiro de esgoto muito forte, que trouxe muitos pernilongos para o barco. Parecia que toda a Baia da Guanabara tinha vindo passear em Arraial do Cabo!

 

13/02/2007

Acordamos cedo, com um lindo dia ensolarado. Fizemos nosso café da manhã e telefonamos para o Edgar, que ficou de vir às nove e meia para passearmos na ilha de Cabo Frio. Quando fui tirar a água do bote, o remo escapou da minha mão e foi direto para o fundo! Mais um presente para Iemanjá. Engraçado, não perdemos nada no começo da viagem e agora estamos perdendo várias coisas (âncora, corrente, remos, fora os tradicionais pregadores, que devem estar dando para pendurar a roupa de um exército da Deusa!). Algumas gaivotas vieram para perto do Fandango e jogamos pedaços de pão para elas, que fizeram a maior festa. Edgar chegou e trouxe uma boa surpresa com ele: o Paulo e mais um amigo, chamado Ângelo. Fomos todos para o “Fandas” e seguimos direto para o praia do Farol. Aproveitamos para conversar, contar as novidades e também dar notícias dos amigos em comum, Claudinei do Moara e Edélcio do Tiki. Chegamos logo na praia, seguindo o caminho mais curto que todos os barquinhos de passeio fazem, diretamente para a praia, sem dar toda a volta perto da ilha de Cabo Frio. A água estava escura e cheia de águas-vivas, mas também cheia de filhotes de peixes, entre eles muitos peroás minúsculos. Ancoramos ao lado do atracadouro da Marinha e descemos no píer. Começamos a subir por uma trilha íngreme e a visão que se descortinava era cada vez mais bela. Primeiro a enseada entre Cabo Frio e Arraial, depois a grande praia do continente e por último o lado de mar aberto, com sua beleza selvagem. Fomos andando até ver a ponta do Focinho e ter uma vista parcial do farol de Cabo Frio. Muito bonito mesmo e muito bem cuidado, como tudo que a Marinha cuida! Paramos um pouco, bebemos água e infelizmente já estava na hora de voltarmos, pois o Edgar tinha um compromisso na cidade. A Carol tomou um pequeno tombo na volta e ralou um pouco o joelho. Chegando no píer da Marinha ela lavou-o, enquanto eu ia buscar o caíque na praia. Fomos todos para o “Fandas” e retornamos para Arraial, nos despedindo dos amigos. Fiz um cozido para o almoço, com batatas, cenouras, tomate, cebola e carne seca, usando a panela de pressão. Ficou excelente e as crianças adoraram! Se nossa viagem fosse começar agora, acho que estaríamos comendo muito melhor do que no ano passado. O treinamento faz o cozinheiro! Descansei um pouco, as crianças ficaram jogando o “Aventura Oceânica”, com algumas abelhas entrando no barco e nos perturbando o tempo todo, e fui atualizar meus diários. Consegui, finalmente, colocar em dia os meus diários no site, todos com fotos. Resolvemos dormir aqui mesmo, na praia dos Anjos, para poder pegar a previsão de tempo do “Buoy Weather” mais tarde, pois o sudoeste não parou de soprar o dia todo. No final do dia, tomamos um banho de mar muito gelado, mas estávamos todos precisando. Quando anoiteceu, as crianças estudaram e a Carol começou seu resumo para estudar para as provas. Quando estava indo dormir, o vento havia virado para nordeste.

 

14/02/2007

Acordei eram duas e meia da manhã e não consegui dormir mais! Acho que é a expectativa da volta, pois fiquei pensando num monte de coisas que quero fazer e amigos que quero reencontrar, quando voltarmos para a Ilha. Também fiquei pensando no que posso fazer para ter uma entrada de recursos financeiros que nos possibilite a compra de um novo barco, com mais conforto. Esse é o objetivo que estarei perseguindo e o que eu gostaria mesmo é um barco igual ao Fandango, com uns 34 pés, um pé direito dez centímetros maior (inclusive banheiro) e os camarotes com mais privacidade. Fiquei rolando na cama até as sete e meia e resolvi me levantar. Puxei a previsão de tempo e estava boa, com promessa de bons ventos no início da tarde. Tomamos o café da manhã, arrumamos e guardamos tudo, saindo de Arraial do Cabo um pouco antes das dez. Adoramos este lugar e, sempre que eu puder, voltarei para cá. Saímos motorando, com o objetivo de dar a volta à Ilha de Cabo Frio e conhecer seu lado mais selvagem, no mar aberto. O vento era contra, bom sinal, pois iríamos contornar a ilha e ele se tornaria favorável. Baixamos nossa isca artificial na água, esperando pegar algo para o almoço. Fomos costeando a bela ilha e vimos o antigo farol, no alto de um dos maiores picos da ilha e fico imaginando o trabalho para construí-lo lá. Pelo que nos contaram, hoje ele está inacessível, pois a trilha que dá acesso a ele fechou. O mar do lado de fora da ilha estava muito agitado, com muito refluxo (as ondas batem na ilha e voltam, criando um mar desencontrado, com ondas que vão e outras que voltam), ótimo para se enjoar (ainda bem que tenho bons marinheiros!). Passamos pelo Focinho do Cabo, uma ponta de pedra que parece um focinho e sobre a qual vê-se o Farol de Cabo Frio. As ondas quebravam no “focinho” e subiam muito alto. Quando deixamos a ilha para trás, o mar mudou totalmente e ficou bem mais tranqüilo. O vento, que esperávamos ser bom, estava fraquíssimo e o motor continuava ligado. Quando nos afastávamos da ilha, o molinete “cantou”! Peguei a vara e comecei a trabalhar o peixe, enquanto o Jonas recolhia a genoa e reduzia o motor. O peso estava grande e a briga muito boa. Quando chegou mais perto, depois de um bom tempo, vimos que era um dourado e grande! Como é bonito ver aquele peixe reluzente cortando a água e fazendo jus ao seu nome! O Jonas pegou a vara para eu poder embarcar o peixe, o que também não foi fácil. Tentei usar um arpão manual, que nem conseguia furar a cabeça dele. Quando finalmente entrou, a fisga não abriu, pois está um pouco enferrujado. Nessas tentativas, o peixe recuperava suas forças e levava um bocado de linha, que o Jonas tinha que recolher novamente. Peguei o pequeno bicheiro que havíamos comprado em Vitória e, após algumas tentativas, consegui cravar no peixe e arrancá-lo da água. Era lindo! É o maior peixe que pegamos na viagem. Deve ter uns sete ou oito quilos e mede 112 cm da cabeça até a ponta do rabo! Acho que foi presente de Iemanjá, em troca de nosso remo e nossa âncora! Fotografamos (o Jonas não conseguia levantar o peixe!) e logo comecei a “tratá-lo”. Tirei dois imensos filés, dos quais também arranquei a pele, sobrando só a firme, branca e saborosa carne, de um dos peixes que mais gosto. Descartamos a carcaça no mar e cortei os filés em vários pedaços. Salguei muitos, reservei alguns para assar mais tarde e fiz, de um filé das costas, um sashimi para aperitivo. Deu um bom trabalho, mas valeu a pena. O Jonas e a Carol adoraram a carne do dourado. O sashimi ficou divino, temperado com limão e shoyo. Quando acabei tudo, inclusive a limpeza do cockpit e ia descansar, percebi que o vento entrou. Abrimos as velas, desligamos o motor e começamos uma gostosa velejada com vento de alheta. Antes de eu entrar, ainda vimos vários golfinhos, que estavam atrás do barco, a cerca de cem metros. Dormi um pouco e, quando acordei, o vento havia mudado um pouco. Abrimos asa de pombo e seguimos velejando, devagar, mas em silêncio, só com o barulho da água e a risada das crianças. O resto da tarde foi todo assim e, quando anoiteceu, mantivemos o pano todo, pois a previsão não era de ventos fortes. Fiz o almo-janta: dourado assado com batatas, cebolas e tomate! As crianças adoraram, ainda mais porque não fiz arroz! Anoiteceu quando já estávamos chegando perto da cidade do Rio e, um pouco depois de as crianças deitarem, vários golfinhos cercaram o barco. Chamei-as, mas desta vez não foi tão bonito, por falta de ardentia e excesso de luzes da cidade grande. Não víamos mais seus rastros fosforescentes, mas escutávamos quando subiam para respirar e víamos suas barbatanas no contra-luz da cidade. Quando foram embora, também fiquei sozinho, para minha noite de turno. Noite linda, muito estrelada e sem lua, com as luzes do Rio a me servirem de guia. Mesmo muito longe da costa, consegui distinguir claramente o Pão-de-Açúcar e o morro da Urca, por seu relevo característico e a pequena luz das estações de bondinhos em seu topo. É muito belo ver o Rio do mar, também! Era meia noite e estávamos cada vez mais perto de casa.

 

15/02/2007

Quando eram duas da manhã, o sono bateu forte e pedi para a Carol ficar um pouco para mim. Ela estava bem acordada, pois também queria ver as luzes do Rio do mar, saudade que ela trazia da nossa subida da costa. Ela ficou bem e me deixou dormir uma hora e meia tranqüilo. Estávamos numa posição intermediária boa, pois os navios passavam por fora de nós e os pesqueiros se concentravam mais perto da costa. Isso só mudou quando chegamos na Ilha Rasa da Guaratiba, pois os barcos começaram a se concentrar no que parece ser uma “curva” da costa. Vi um enorme transatlântico todo iluminado passar perto de nós. Ele fica mais bonito ainda à noite. Pouco depois, já faltando pouco para amanhecer, vi um “barquinho alaranjado” navegando no horizonte. Era a lua, quase nova, que também vinha velejar conosco! Pouco a pouco ela subiu e perdeu sua cor alaranjada e, algum tempo depois, o dia raiava. O engraçado é que eu esperava ver o céu começar a clarear pelo través de bombordo, onde estava tudo escuro. “- Ué, esqueceram de começar a acender o sol ou vai vir uma tempestade daquelas”. Havia me esquecido que fazíamos um curso oeste-leste e, quando olhei para trás, vi tudo começar a clarear. Seis e meia, já dia claro, chamei o Jonas e fui dormir. Dormi uma hora e fiz a navegação. Dormi mais uma hora e meia e levantei para ligar o motor, pois o vento diminuiu demais. Passamos ao lado da bela restinga da Marambaia e chegamos em Ilha Grande. O vento voltou duas horas depois de ligarmos o motor, o que foi ótimo, pois ficamos com as baterias recarregadas pelo uso do motor e voltamos a velejar. Nosso destino era Parati e poderíamos passar por dentro de Ilha Grande ou por fora. Como eu nunca havia passado por fora, falei com as crianças e elas toparam a mudança de rumo. Escutamos o “Hot Day II” falar no rádio e entramos em contato com eles. Fizeram boa travessia e combinamos nos encontrar em Parati amanhã. Colocamos a isca na água outra vez, ao lado de Ilha Grande, tentando pegar um peixe fresco. Passamos na frente da praia de Lopes Mendes e da lindíssima ilha de Jorge Grego, que quero voltar para conhecer melhor numa outra oportunidade. O lado abrigado dela é muito bonito e centenas de pássaros marinhos a sobrevoavam, principalmente os atobás, retornando de sua pescaria e as fragatas, tentando roubar-lhes o alimento. Distinguimos, também, Dois Rios e a praia do Aventureiro. O vento havia apertado muito e as ondas crescido, tornando o barco difícil de ser levado, mas o “Alfredo” resistia bravamente. Perdemos um peixe pequeno, que soltou do anzol antes de podermos vê-lo. Quando chegávamos no través da Ponta Alta da Parnaioca, a peça de plástico de encaixe do piloto na cana de leme se partiu. Eu estava dentro do barco e, antes que o Fandango atravessasse com o vento forte, a Carol já havia soltado o piloto e o Jonas havia assumido o leme! Que “tripula”! Saí, peguei o leme, mandei tirarem o piloto e curti aquela velejada, deliciosa empopada de vento forte com ondas para surfar! Vi que não adiantava colocar o outro piloto, pois quebraria também, a menos que tirássemos vela, mas a velejada estava deliciosa. Fomos curtindo o visual do sul do lado externo de Ilha Grande, com grande paredões que as ondas tentavam galgar, e nos defendendo do mar de refluxo do local e das grandes ondas que vinham por trás. Quando deixamos a ilha para trás, o mar novamente se acalmou e as ondas, mesmo grandes, eram mais organizadas e previsíveis. Recoloquei o piloto, o “Jarbas” desta vez, deixei o Jonas no turno e fui fazer um miojo para enganar o estômago. As crianças adoraram, como sempre, e então fui descansar, pois dormi muito pouco com tanta coisa nova e bonita. Acordei bravo, pois eles deixaram a mestra aquartelar, pois estavam distraídos brincando, preocupados apenas com os barcos e obstáculos na vizinhança. Após a bronca, vi que o “Jarbas” não estava conseguindo levar bem o barco, pois as ondas de popa haviam aumentado novamente. Deixei o Jonas no leme, que curtiu muito a velejada e não quis sair do turno quando este acabou, para continuar levando o barco. Ele leva muito bem o leme. Algum tempo depois, a Carol levou um pouco, mas o Jonas pediu para levar outra vez. Fomos assim até chegar à ilha do Mantimento. Falei com a Capitania dos Portos pelo celular e avisei de nossa chegada, agradecendo o acompanhamento da travessia. Assim que passamos a ilha do Mantimento, o vento, como sempre, acabou e motoramos até Jurumirim, nossa ancoragem preferida. Eram 19:00 hs e tínhamos feito uma ótima travessia, com 33 horas de duração e pouco uso do motor. Ancoramos no “paraíso” e, após dar uma geral na parte externa do barco, coloquei o calção e pulei na água. Estava deliciosamente quente! Havia um barco de pesca ao nosso lado e o pescador nos avisou para não nadar ali, pois pegaram um grande tubarão na baia outro dia e ele disse ter visto um grande tubarão ali mesmo, que chegou a dar um “encontrão” no barco dele! Por via das dúvidas, meio contrariado e desolado, saí da água rapidamente.Agradeci o pescador e peguei o balde. Eu e a Carol tomamos um delicioso banho no cockpit, sonhando com mergulhos no mar. Fiz nosso jantar: filés de dourado, que eu já havia salgado e seco e no início tarde coloquei para re-hidratar, fritos no azeite com macarrão na manteiga (um dos pratos preferidos da Carol). Eu não temperei o peixe e ele tinha apenas o sal do processo de salga e secagem, mesmo assim, só com o azeite, ficou fantástico! As crianças adoraram e vou ter que refazer esse peixe várias vezes (ainda bem que temos mais uns seis filés grandes salgados). Assim que acabamos de jantar, um barco com luzes fortes se aproximou. Era uma lancha da Capitania dos Portos, que veio nos dar boas vindas e ver se chegamos bem. O Sgto. Nóbrega, muito simpático, com mais dois comandados, mostrou-nos a lancha da Capitania e depois eles vieram a bordo para conhecer o “Fandas”. Conversamos um pouco sobre nossa viagem e eles, curiosos, perguntaram várias coisas e detalhes de nossa vida a bordo. Prometemos visitar a Capitania amanhã, para conversar mais e conhecer e agradecer a atenção do Capitão-dos-Portos. Depois que eles se foram, ainda achamos forças para fazer nossos diários (tem que ser feito logo, senão esquecemos metade das coisas que aconteceram) e o Jonas ainda estudou. Finalmente, voltamos à Parati! O Vilfredo me escreveu, quando nós estávamos saindo daqui meses atrás, nos incentivando a seguir viagem: “- Há muitas “Paratis” para serem conhecidas na costa brasileira”. Nós fomos, as conhecemos e adoramos, mas não perdemos o carinho e admiração por esta “Parati”, tão bela e acolhedora, a ponto de a considerarmos o “quintal de casa”. É muito bom estar de volta! Só esperamos que os tubarões não tenham este carinho e admiração e se mudem logo daqui!

 

16/02/2007

Não consegui dormir muito bem e acabei acordando cedo. A expectativa da volta está muito grande. E esta é nossa “primeira” chegada. Logo levantamos âncora e fui fazendo nosso café no caminho para a marina Refúgio das Caravelas, nosso “refúgio” em Parati. Fomos chegando nas primeiras marinas e logo começamos a ver barcos conhecidos. O Plânkton, do Fabinho e da Cecília, estava na marina do Engenho e era o barco mais externo, fácil de ser visto. Na marina ao lado, vimos o “Itamambuca” do Dimitri, que é nosso antigo “Trinta-Réis”. Parece que ele veio nos recepcionar em Parati!!! Ao lado dele, estava o “Hot Day II” e passamos ao lado dele para conversar com sua tripulação. Tinham feito boa viagem e agora estavam curtindo a bela enseada de Ilha Grande. Recomendamos algumas ancoragens e ficamos de nos falar mais tarde. Quando chegávamos na marina, um barco de ferro que havíamos apelidado de “Tétano”, por estar todo enferrujado, agora está no fundo da enseada, num lugar perigoso, por ser na entrada da marina. Mesmo com o teto para fora, o perigo à noite é grande. Fomos chegando e logo vimos no píer caras conhecidas. Soltamos âncora e ficamos numa ponta do píer, descendo logo para abraçar a Edna e o Peter. Pouco depois, encontrávamos o Nonoco e os marinheiros que trabalham ali. Fomos para o Tararaína e conversamos um bocado sobre nossa viagem. Pouco depois, entra a bordo um senhor que me pareceu conhecido: era o Leonard, que construía os barcos Alegro Vivace, Contripoint e Opus 33. Eu o conheci há 20 anos atrás e, posso dizer, que não mudou nada! Agora está com 79 anos e está preparando um pequeno veleiro para velejar até a Europa. Não há dúvidas que o mar rejuvenesce!!! Após matar as saudades dos amigos, pegamos uma carona até a cidade com os amigos do veleiro Jataí e fomos até a Capitania dos Portos, agradecer o comandante Valdir pela atenção da acolhida. Conhecemos mais um belo exemplo de homem-do-mar da Marinha do Brasil, de caráter reto e que gosta muito de história. Ficamos conversando de nossa viagem, de história do Brasil, de filhos e problemas da adolescência e de Parati e suas belezas. Ficamos mais de duas horas e meia num papo gostoso, que pareceu ter sido de cinco minutos! Batemos fotos com ele, ganhamos bonés, agradecemos muito e nos despedimos. Fomos para um restaurante almoçar (o papo estava tão bom que esquecemos até do almoço) e encontramos com a Lu, que tinha vindo nos visitar. Almoçamos juntos, para matar saudades, no “Sabor da Terra” e comemos uma torta no “Café com Arte”, que encontramos mais bonitinho ainda. Em seguida fomos procurar materiais de mergulho perto do píer, onde também tomamos um sorvete. Na volta, paramos no mercado rapidamente, para comprar coisas para o café da manhã, pois havia acabado tudo para essa refeição no “Fandas”. O mercado estava abarrotado de gente e voltamos para a marina cansados do dia cheio. Conversamos um pouco no barco e fomos dormir cedo. É muito bom estar de volta e esta “primeira” chegada ao seio dos amigos, foi emocionante. Prepara-te coração, pois logo, logo, vai ser na Ilha!

 

17/02/2007

Finalmente consegui dormir bem! Dormimos até tarde e, após o café da manhã, fomos tomar um banho de piscina na marina. Logo encontramos o Sérgio, a Eliana e a Deborah, do “El Shadai”. As crianças estavam com muitas saudades da Deborah e rapidamente foram para a piscina para brincar. Ficamos conversando com o Sérgio e a Eliana, contando as coisas boas da viagem (que foram muitas). Perguntamos dos conhecidos e ficamos sabendo que o Hotel da Praia está com outro dono e que nosso amigo em comum, Gabriel do “Tatali”, está bem e curtindo o veleiro e a Ilha. Após um bom tempo de piscina e relaxamento, fomos encontrar o Fabinho e a Cecília do “Plânkton”. Como foi bom revê-los! Falamos muito dos amigos em comum e contamos da nossa travessia para o Caribe. Quanto a eles, estão ótimos!!! Ainda mais agora, pois, em breve, serão três! A Cecília está grávida e pretende continuar vivendo a bordo com o bebê. A subida deles para o Caribe vai atrasar um ano, mas irão com mais tripulantes! Fiquei muito contente, pois eles são um casal muito positivo e simpático e, tenho certeza, serão ótimos pais “náuticos”. Fomos almoçar novamente em Parati e depois fomos ao mercado. Estava pior que ontem! Muita gente, vários bêbados e filas enormes. Fizemos nossas compras com paciência e procuramos não esquecer nada, para não precisar voltar. Retornamos ao Fandango e ficamos esperando a Mônica, irmã da Lu, que está para chegar. Como era de se prever, a estrada estava péssima e ela chegou eram mais de onze e meia. Ainda conversamos um pouco e as crianças ganharam alguns presentes, que adoraram. Principalmente, um brinquedo que fazia sons de “puns” e que foi a diversão do resto da noite.

 

18/02/2007

Após o café, fomos tomar um banho de piscina, pois havíamos acordado tarde e estava muito quente. Conversamos com os amigos mais um pouco, mas estava na hora de sair para curtir esta bela enseada de Parati. Seguimos velejando em orça até a praia do Engenho, em Jurumirim, e ancoramos lá. O local estava cheio de barcos, com muitas pessoas na água e, esquecendo a estória do tubarão (se houvesse algum por ali, já estaria de estômago cheio), fomos todos para a água também. Esta estava maravilhosa: quente e limpa! Ficamos brincando um pouco ao lado do barco e depois fomos para a praia. Na beirada estava ainda mais quente e não dava vontade de sair. Ficamos até começar a escurecer e retornamos ao “Fandas”. Fiz um ensopado de carne seca e arroz com ervas para o jantar. A noite estava muito bonita, sem lua, mas com o céu repleto de estrelas. Um pouco antes de dormir, deitei com a Carol olhando o céu. Ela começou a perguntar o nome das estrelas e, algumas eu soube responder, mas a maioria eu não sabia. Essa é a desvantagem do GPS: perdeu-se o encantamento de conhecer as estrelas, apesar de continuarmos admirando-lhes a beleza!

 

19/02/2007

Procuramos acordar cedo para aproveitar bem o dia ensolarado. O café da manhã foi farto e depois descemos para levar a Mô e a Lu para conhecer o canto da praia do Engenho, onde há engrenagens antigas de uma roda-d’água. Andamos pela pequena trilha e aproveitamos a bela paisagem. Elas gostaram muito e, na volta, ficamos brincando na beirada da praia. Conhecemos os donos do veleiro “Whisper” e ficamos conversando com eles sobre viagens. Voltamos ao “Fandas” e fizemos uma coisa que queríamos fazer há muito tempo: ancorar na praia de Jurumirim, onde fica a casa do Amyr Klink. Logo que ancoramos, mais dois veleiros chegaram na enseada e ancoraram ao nosso lado. Um deles era o “Pulsar”, que era de Ilhabela e que nos conheceu quando estávamos fazendo as manutenções necessárias para a viagem, no estaleiro do Gereba. Conversamos um pouco e contamos que tudo foi ótimo na viagem. A primeira coisa que fizemos foi mergulhar. Seguimos para o costão oeste e o percorremos, vendo as grandes estrelas-do-mar, que só encontramos na enseada de Ilha Grande e Ubatuba. Muitos barcos estavam ali e várias escunas grandes paravam na praia, descarregando muitas pessoas. Fico imaginando que o Amyr não tem sossego nesta época! Após o mergulho e as escunas irem embora, pegamos o bote e fomos para a praia. É lindíssima! Um riacho de um lado, várias canoas na areia e uma pequena e simples casa, no meio de muito verde e um jardim bem cuidado. Fotografei bastante! O Jonas começou a fazer seus barquinhos, a Carol foi nadar com a Mô e eu fui passear na praia com a Lu. O dia foi acabando, as cigarras começaram a cantar em toda a nossa volta e nós saímos a contragosto, pois a paz ali era imensa. O almo-janta ficou por conta da Mônica: macarrão com atum. Comemos muito e logo o sono bateu, junto com uma chuvinha e céu nublado, fazendo a noite ficar melhor ainda para se dormir.

 

20/02/2007

Logo após o café da manhã, fomos mergulhar. A água estava ainda melhor que ontem e se via o fundo onde o Fandango estava ancorado. Outro mergulho bonito, com muitas estrelas e peixes. A novidade foi termos entrado em uma caverna, onde havia vários peixes e grandes pedras encavaladas dentro, que se sustentavam. Do alto, caiam raízes e folhas das plantas que estavam nas pedras de cima. Na paisagem, só faltava uma caveira com roupa de pirata, uma grande espada e um baú de tesouro! Muito bonita mesmo. Me arrependi de não ter levado a máquina com o saquinho a prova d’água. Fomos até a ponta do costão oeste e depois retornamos ao “Fandas”, após uma hora e meia de um belo mergulho. Arrumamos tudo no barco e retornamos à marina motorando, pois a Lu e a Mô têm de ir embora. Após carregar as malas e nos despedirmos delas, ficamos na piscina conversando sobre barcos e viagens com as tripulações dos outros veleiros. A camaradagem aqui é muito grande e posso dizer que é difícil achar um velejador que não seja amistoso e alegre. Fiz o almoço no barco e as crianças lavaram a louça e arrumaram o barco. Posso dizer que estou com um pouco de “overdose” de filhos. Tenho andado irritado com algumas coisas, mas isso já era esperado, depois de tanto tempo juntos. Acho até que demorou a chegar. Por outro lado, pode ser só a ansiedade da volta. Vou saber apenas quando já estiver na Ilha. Atualizei meus diários e as crianças curtiram o final do dia na piscina, brincando com as outras crianças. Quando anoiteceu, fomos à Parati de carona com os amigos do “Jataí”. Tomamos um excelente sorvete na sorveteria Miracolo e ficamos um bom tempo conversando. Eles têm a vontade de fazer uma viagem longa de barco e falamos bastante dos bons locais de parada e da parte financeira da viagem. Acho que ficaram bem animados e, pelo jeito deles, acho que vão mesmo. Os dois gostam bastante e vemos uma cumplicidade e carinho entre eles que é fundamental para a realização desse sonho. Infelizmente, de cada cem pessoas que tem o sonho de fazer o mesmo que nós, apenas uma segue seu caminho sonhado. A Carol encontrou o sargento Nóbrega com a família na sorveteria. Ele saiu para me procurar, mas na bagunça do Carnaval não me achou. Aproveitamos e fomos dar uma volta por Parati. Fomos na loja da irmã da nossa amiga Berê e a achamos muito bem, com a filha ajudando-a na loja. Finalmente conseguimos falar com a Berê pelo telefone e marcamos um café na manhã seguinte. Na loja, ainda encontramos o Fabinho e a Cecília, que prometeram ir em breve para a Ilha. Retornamos ao “Fandas” de táxi e logo as crianças foram dormir, enquanto eu atualizava meu diário e respondia os e-mail’s. Amanhã pretendemos ir para a ilha das Couves e pernoitar lá, aproveitando a previsão de tempo, que é boa para isso, com a promessa de ventos de leste.

 

21/02/2007

Levantei às sete e logo comecei a arrumar as coisas para nossa travessia. Esperamos a Berê para tomar café da manhã conosco, mas ela não pôde vir. Que pena! Tomamos café da manhã na marina e foi ótimo, pois assim não temos louças para lavar. Começamos as despedidas, dando “até breve” ao pessoal da marina e deixando um abraço para o Aldo, que não estava. Passamos no Tararaína para nos despedir do Peter e da Edna e eles foram conosco soltar nosso cabo de atracação. Batemos fotos e também nos despedimos do Alceu, do Edson e do Celso, que têm barcos na marina. Soltamos as amarras eram onze horas da manhã, acenando para os amigos e logo nos afastando do nosso “refúgio” de Parati. Falamos com o Fabinho no rádio e nos despedimos deles. O vento era pouco e na cara, mas parecia ser promissor para quando dobrássemos a ponta da Joatinga. Passamos na frente de Jurumirim, que vai deixar saudades, deixamos a ilha do Mantimento para trás e seguimos na direção da famigerada ponta. No caminho, ao olhar para cima, meu boné preferido, do porta-aviões A12, foi arrancado de minha cabeça e não deu para voltar a tempo de pegá-lo! Puxa, esse boné passou por tantas travessias, muitos ventos fortes e foi se perder justamente dentro da baia da Ilha Grande?! É um sinal, para não descuidarmos nunca. Quando nos aproximávamos da ponta da Joatinga, a Carol nos chamou a atenção para a figura perfeita de uma baleia cachalote esculpida na montanha. Muito legal!!! O Jonas comentou: “- Xi, tinha que ser cachalote!!!” (é a única que tem a garganta grande e poderia ter engolido o Jonas bíblico). Quanto mais nos aproximávamos da ponta, mais o vento girava contra nós. Demoramos quatro horas e meia para chegar à Joatinga, andando muito devagar no motor, com vento, correnteza e ondas contra nós. Ao contornarmos a Joatinga, o vento rondou junto e continuou numa orça muito apertada. Desliguei o motor e velejamos quinze minutos. O vento voltou a ficar na cara e continuamos motorando. É impressionante, mas ele girou uns cento e dez graus! Passamos pela ilha de Cairuçu, ponta de Cairuçu e depois pela bela Ponta Negra, que conhecêramos com a Berê. Minha previsão de chegar de dia à ilha das Couves foi “pro beleléu” e continuamos motorando em direção à ilha. O mar estava calmo e só havia ondas maiores na frente dos grandes paredões da Joatinga e Ponta Negra. Fiz um miojo para o almoço (as crianças sempre fazem festa quando tem miojo!) e descansei um pouco à tarde. O final de tarde foi muito bonito e o pôr-do-sol foi belíssimo!!! Conseguíamos enxergar a ilha Anchieta, a ilha Vitória e vislumbrar uma sombra que devia ser a ilha de Búzios. Não enxergamos a “nossa” Ilha, mas sabemos onde ela está e que está esperando chegarmos mais perto para se mostrar! Vimos o sol se pondo ao lado da ilha das Couves. O reflexo alaranjado da luz do sol com o contorno da ilha escura na frente foi demais! Para completar, uma lua crescente já descia pouco depois do sol, alaranjando também quando escureceu. Redobramos nossa atenção, distribui tarefas para cada um e fomos nos aproximando da ilha, passando perto de alguns barcos de pesca. A Carol foi para a frente e foi nossos olhos; o Jonas ficou ao lado do piloto, controlando-o e também de olhos abertos; eu fazia a navegação pelo GPS, no qual havia lançado os pontos de chegada quando ainda era dia. Quando contornávamos o ilhote das Couves, a Carol tomou um grande susto: pequenos golfinhos começaram a pular ao lado dela, na proa!!! Ela ficou alucinada e queria que nós fôssemos para a frente, para vê-los também. Não pudemos fazer isso, pois tínhamos que fazer a manobra de aproximação cuidadosamente. Entramos na enseada protegida e soltamos âncora ao lado de um veleiro e alguns pesqueiros que lá estavam. Eram oito e meia da noite e a travessia de nove horas e meia foi praticamente toda feita a motor. Estávamos agora navegando de volta ao estado de São Paulo, de onde saímos em dezembro de 2005 e fomos recebidos com uma típica falta de vento de Ubatuba! Quando arrumávamos o barco, vimos muitos peixinhos ao lado do barco e tentamos pescá-los. Eram savelhas e só conseguimos pegá-las quando tiramos a isca (um pedaço de queijo!) do anzol e começamos a deslizar o anzol vazio sobre a água! Elas ficavam alucinadas com o brilho do anzol no facho de luz da lanterna e atacavam-no furiosamente. Pegamos várias, com intenção de usá-las como isca para peixes maiores e ficamos pescando, enquanto eu fazia uma sopa para o jantar. Liguei o telefone e fiquei admirado de ver que havia sinal em Couves. Vi uma mensagem do amigo Dimitri, dizendo que viria para Couves nos encontrar. Liguei para ele e fiquei sabendo que ele nos esperou até as seis e meia da tarde. Que pena! Ia ser bom revê-los. O sono bateu logo e dormimos tranqüilamente, sonhando com a chegada em Ilhabela e o reencontro com os amigos.

 

22/02/2007

Acordamos no paraíso! A água das Couves estava transparente, com cerca de vinte metros de visibilidade e estava deliciosa. Coloquei o calção e fui para a água para despertar de verdade. Fizemos um café da manhã fraco, para não ter congestão no mergulho, e fomos com o bote para o ilhote das Couves. As setas do meu arpão estavam completamente enferrujadas, então levamos a vara de pesca e tentamos pegar um bom peixe para o almoço com uma isca artificial, mas os peixes não gostaram dela. Num dos lances, a isca enganchou no fundo e então eu caí na água para soltá-la. Estava fundo, mas consegui chegar nela e removê-la das pedras. Perdi a vontade de sair da água e fiquei levando a isca artificial com a mão, mas os peixes, apesar de chegarem perto dela, não a pegavam. A Carol também pulou na água e fomos curtindo o mergulho, indo em direção à praia. Vimos uma bela arraia e dois belos frades. Apesar da água maravilhosa, a fauna estava pobre, com poucos peixes. Resolvemos pegar uma praia gostosa e nadamos até ela. Ficamos umas duas horas lá, naquela ilha maravilhosa, com a água lembrando a do Caribe. O sol estava forte e vários barcos de pesca estavam ancorados na frente da praia. Quando começaram a chegar vários barcos de passeio, resolvemos seguir viagem. Eram duas horas da tarde. Fomos para o “Fandas”, levantamos a âncora e logo abrimos as velas e desligamos o motor. Finalmente um pouco de vento para velejarmos! Soltamos a isca artificial para tentar pegar algum peixe. Navegamos umas duas horas e passamos perto da ilha Rapada, indo em direção ao Saco da Ribeira em Ubatuba. Numa das saídas da cabine, olhei para trás e vi algo branco flutuando ao longe, na popa do barco. Comecei a recolher a isca, imaginando ter pegado um saco de plástico ou algo parecido. Quando foi chegando mais perto, o “saco plástico” começou a se mexer: era um peixe! Fui recolhendo e içamos uma pequena barracuda (ou bicuda, como chamam por aqui) de cerca de um quilo! O Jonas se sentiu vingado das barracudas, que o assustaram em Abrolhos. Depois de duas horas velejando, o vento diminuiu muito e tivemos de ligar o motor. Aproveitei que estávamos em frente à Ubatuba e telefonei para os amigos Dimitri e Flávio, marcando de nos encontrar no Hisashi, para comer um sashimi mais tarde. Fomos nos aproximando da ilha Anchieta e, quando atingimos o boqueirão, pudemos ver Ilhabela inteira, que se mostrava ao longe, nos esperando pacientemente. Guinamos para o Saco da Ribeira e fomos curtindo as praias de Ubatuba, que tanto gostamos e onde, tanto eu quanto as crianças, velejamos pela primeira vez. O Jonas quis velejar um pouco e andamos meia hora à vela. Na hora de baixar a mestra, pedi ao Jonas para liberar “o cabo azul”. Ele perguntou qual cabo era e respondi: “- A adriça da mestra”. No começo da viagem, isso acontecia ao contrário, mostrando como eles vieram bem mais “marinheiros”. Fomos diretamente para o píer e atracamos ao lado de um veleiro de trinta pés quando eram seis e meia da tarde. Arrumamos o barco rapidamente e descemos para tomar um banho. Antes, passamos no Hisashi e cumprimentamos o amigo, que já nos esperava. Após o banho, tomamos sucos gelados de graviola e cupuaçu, para matar saudades do Nordeste. Logo chegava o Flávio e a Rosa e, pouco depois, o Dimitri e as meninas. Como elas estão grandes e lindas! Vemos o tempo passar realmente, quando olhamos os nossos filhos e como cresceram! Montamos uma mesa e, algum tempo depois, chegavam a Lucila e a Sirleine. Conversamos muito, com muitas histórias de viagens e de regatas. Soube que o Flávio foi novamente campeão das regatas de Ubatuba em 2006 e o Dimitri, Flávio, Rafa e Matheus foram, além de campeões brasileiros da ORC, também pegaram terceiro lugar geral no campeonato paulista da ORC, que é disputadíssimo. As crianças, na mesa ao lado, também contavam suas histórias e os adultos comentaram que o Jonas voltou bem mais falante. Ficamos conversando até muito tarde e, no final do delicioso sashimi, estouramos uma das duas champanhes que o Dimitri nos trouxe de presente para comemorarmos a chegada. A outra, ele nos disse para estourar quando chegarmos na Ilha. Ao retornar ao barco, um pouco antes de dormir, vi que minha cabeça não está funcionando bem: levei a máquina fotográfica na sacola e esqueci de bater fotos dos amigos! Dormimos no píer do Saco da Ribeira mesmo, pois ninguém estava com disposição de navegar até o Flamengo àquela hora.

 

23/02/2007

A tripulação levantou rapidinho quando eu falei: “- Quem quer ir tomar café no Hisashi?”. Fomos logo para lá e tomamos um “SENHOR” café da manhã. Aproveitamos para nos despedir do Hisashi e da Emília, além de encontrar o Alexandre da AUMAR e o Teles. Pagamos a taxa da atracação no píer e fomos para uma de nossas praias preferidas de Ubatuba: Flamengo. Pegamos uma poita e não havia barco algum quando chegamos. Caí na água, que estava transparente e com uns trinta graus de temperatura. Essa enseada protegida do Flamengo é deliciosa! Aproveitamos para fazer nossos diários, responder e-mail’s e depois fomos para a praia com o botinho. Ficamos ali, na beirada da praia a tarde toda, até o sol sumir. Brincamos, nadamos, mergulhei, o Jonas velejou com seu nautimodelo e curtimos a delícia dessa praia, que nos recebeu para relaxarmos no primeiro dia de nossa viagem e agora permitiu que “curtíssemos” o último dia dela também, em descanso profundo. O único senão, é que me ligaram da Capitania dos Portos perguntando sobre um veleiro desaparecido. Pouco depois, o genro do velejador desaparecido, que é de Santa Catarina, me ligou também. Deveríamos ter cruzado com ele na quarta ou quinta-feira, mas não o vimos. Provavelmente, ele saiu para longe de terra e ficou sem vento. Mesmo não havendo nenhuma situação de tempo ruim, é preocupante alguém não dar notícias e a travessia demorar demais. Quando voltávamos para o barco, a Carol ficou curiosa com uma moça que chegou com o veleiro no Flamengo e quis saber se ela era a Isabel, que atravessou sozinha o Atlântico. Não era, mas ela foi muito simpática e conversamos um pouco. Quando estava quase escurecendo, o genro do velejador me telefonou, dizendo que ele chegou bem em Parati e que estava tudo em ordem. O vento fraco de Ubatuba tem esse péssimo costume de dar sustos nos familiares de alguns velejadores (o Alceu, de Parati, levou cinco dias para ir de Ilhabela até Parati!!!). Respondi vários e-mail’s de amigos dizendo que estão ansiosos para chegarmos e perguntando como está o “coração” para a volta ao porto de origem. A Carol está louca para chegar (queria ter ido hoje), pois está ansiosa para rever todos. O Jonas quer ver os amigos e parentes, mas acho que preferia continuar a viagem. Eu estou num paradoxo de sentimentos: se é muito bom voltar, encerrar o ciclo e rever os amigos, também é muito bom viajar, conhecer lugares e fazer amigos. Tudo tem sua hora. Agora é a hora da volta. Acho que não vou dormir de hoje para amanhã! Fiz uma carne seca para o jantar, atualizei os diários (para manter a cabeça trabalhando) e as crianças acabaram seus estudos. Agora só falta chegar na escola na segunda-feira e ver o dia da prova de reclassificação. A noite é de paz completa e não sopra nem uma brisa lá fora. O mar está espelhado, o céu todo estrelado e as luzes da praia da enseada e dos outros barcos fundeados aqui enfeitam a noite. Fiz muitas coisas hoje com o sentimento de “última vez”: último jantar, últimos legumes, última noite a bordo, etc. Apesar disso, não há melancolia: só a profunda sensação de um ciclo terminando. E, talvez, tenha sido o melhor de todos até hoje!

 

24/02/2007

Acordei com uma manhã perfeita: sol, céu azul e uma água transparente! Usei o “banheiro externo” e fui jogar alguns grãos de arroz que haviam caído no fogão ontem. O velho cardume de sargentos apareceu de repente e atacou o arroz com vontade. Depois, foi a vez de lancharem algumas fatias de pão de forma. Eram muitos e estavam com fome. Chamei a tripulação que, sonolenta veio ver. Quando disse: “- Vamos arrumar as coisas para irmos para a Ilha?”, a resposta foi um “- Obaaaa!!!” e começamos a arrumar tudo para a travessia. Tomamos um bom café da manhã, o último da viagem (como essa sensação persegue a gente!) e liguei para avisar a Capitania dos Portos de São Sebastião de nossa saída. Quando estávamos quase prontos, uma visita inesperada: a Daniela, do barco ao lado, veio conversar conosco. Contamos nossa história, demos o endereço do site e contamos alguns detalhes da nossa viagem. Ela e o marido são apaixonados pelo mar e logo estarão com o barco numa poita perto do Fandango em Ilhabela, quando acabarem de curtir Ubatuba. Uma tartaruga grande veio se despedir de nós, passando sob o barco. Acabamos soltando as amarras faltavam vinte para o meio-dia, atrasados com o horário de partida que eu havia informado. O vento já dava o ar de sua graça, meio lestado. Saímos do Flamengo com a mestra em cima e toda a aparelhagem de balão armada: será que finalmente levantaremos o balão na nossa viagem? O vento, em torno de oito a dez nós e vindo de través, permitiu que o levantássemos e tivéssemos bom andamento. Passamos pelo lado de fora de Mar Virado, tendo de abaixar o balão por uns vinte minutos para ganharmos orça e novamente levantando-o assim que passamos a ilha. Demos folga ao “Jarbas” e ao “Alfredo”, pois trabalharam muito bem toda a viagem, e nós fomos levando o leme do “Fandas”, nos revezando. O Paulo, do Tukurá, nos contatou por rádio, para saber se ainda estávamos em Ubatuba, pois queria nos encontrar. Que pena, não pudemos conhecê-lo ainda, pois já estávamos longe e ele ainda estava no Saco da Ribeira. Nossa Ilha crescia cada vez mais no horizonte e se mostrava totalmente. As ilhas Anchieta e Mar Virado iam ficando pequenas e cada vez menos nítidas. Estávamos chegando!!! Um último “stress” para fazer as crianças comerem alguma coisa, pois estavam tão ansiosas e com tanta vontade de comer no Cheiro Verde, que não queriam almoçar. A Ponta das Canas nos recebeu em alto estilo, com uma lestada forte e muitos kite’s e windsurf’s cortando a nossa frente enfeitando perigosamente o mar. Ao nosso lado, passou o catamarã do Betão Pandiani, que já foi da Antártica ao Ártico com seus fantásticos catamarãs pequenos e sem cabine. O Jonas adorou ver a incrível performance do veleirinho. E a Ilha, como estava bonita!!! O coração batia mais forte e logo os amigos começaram a nos telefonar e contatar por rádio: Denir, Márcio, Lu e outros, estavam todos à nossa espera. Liguei para a Delegacia dos Portos de São Sebastião e avisei de nossa chegada agradecendo o apoio. Foi o Capitão-dos-Portos daqui que me orientou para conseguir o apoio da Marinha do Brasil, que foi fundamental para a execução tranqüila de nosso projeto, fora todos os bônus que ganhamos com o conhecimento da própria Marinha, seus homens, seus barcos e suas instalações. Passamos em frente à Vila, bem defronte ao píer. Gostamos do que vimos: parece estar muito bonita e vimos muitas árvores. Tínhamos medo de achá-la sem verde algum, pelo que nos haviam contado. Abaixamos o balão (chegamos em alto estilo na Ilha) e fomos direto para nossa antiga poita, emprestada pelo amigo Luis Puig, que ainda estava vazia. Eram cinco horas da tarde e chegamos todos bem, realizando de uma vez os três desejos feitos ao Nosso Senhor do Bonfim, quando foi amarrada ao meu pulso a fita dele, na nossa primeira chegada a Salvador. Quando estávamos para pegar a poita, gritos de “- Carol, Carol...” nos chamou a atenção e lá vinha três colegas da Carol a nado. Fui buscar as meninas com o bote (era longe a praia de onde saíram!!!) e logo elas matavam saudades. A Marina, a primeira a chegar, escreveu para a Carol a viagem toda e sempre queria saber notícias dela. Pouco depois, o André, um amigão do Jonas, também chegava nadando, grandão e com voz grossa. Como é engraçado ver o crescimento e mudança dessas crianças-adolescentes. A mesma surpresa todos tiveram com o Jonas e a Carol, que cresceram e se desenvolveram muito ao longo da viagem. Arrumamos um pouco o “Fandas” e fomos rapidamente para a praia. Foram muitos beijos, abraços e um emocionante reencontro com vários amigos queridos. O Marilzon, a Rejane e as crianças, além da Cuca do Badejo, também estavam lá. Estouramos o champagne que o Dimitri nos havia presenteado e o tomamos na praia. Pouco depois, apareceu o Denir para a comemoração. Tiramos o que era imprescindível do barco, vimos o pôr-do-sol, espetáculo do qual não nos cansamos um dia sequer em nossa viagem e fomos para nossa casa. Como foi bom entrar em casa. Apesar de tudo estar igual, a impressão de tudo estar muito longe no tempo é grande. Algumas vezes, parece que saímos fazem dez anos! Outras, parece que faz um dia! Um banho restaurador nos elevou ainda mais o astral e, como é dia de comemorações, fomos direto para os chalés na Cocaia comemorar o aniversário da Camila, uma amiga nossa, com direito a churrasco, violão, muitas histórias e cantorias. Passamos uma noite muito agradável, vimos duas vezes a meia-noite (é final de horário de verão) e retornamos à nossa casa e nossas camas. Estávamos tão cansados que não estranhamos a mudança e também não sentimos tudo balançando, como acontece algumas vezes com quem fica muito tempo embarcado. Completamos nossa viagem, vivemos intensamente nosso sonho e agora cá estamos de volta, ao carinho dos amigos, belezas de Ilhabela e conforto do lar. Dormi profundamente, profundamente, mas... sei que sonhei. Com navegadas por novos mares e novos lugares. Novos amigos e novas coisas para ver, aprender e apreciar. Já disse que a maior beleza da vida é que ela se renova continuamente. E a maior beleza do ser humano é que seus sonhos também se renovam sempre. Resta, a nós, perseguir vivê-los.

 

Pós-Escrito

Domingo dormimos até tarde e curtimos a delícia de nossa casa, onde ainda estou me sentindo passeando. No final da tarde, fizemos a “via sacra” pela nossa Ilhabela querida: jantar no Cheiro Verde, sorvetes no Rocha e café e doces no Ponto das Letras. Vimos a Vila de perto e está muito bela em sua nova roupagem. Encontramos muitos amigos e foi uma constante receber os parabéns e elogios admirados pelo desenvolvimento das “crianças”. Na segunda-feira, levei-os à escola e os colegas e professores os receberam de braços abertos e com muita alegria. Eles estudam no São João desde 98, quando nos mudamos para a Ilha, ou seja, dois terços da vida deles. Conhecem todos pelo nome e todos os conhecem pelos nomes, desde pequenos. Na parte da tarde, tivemos um difícil “parto”: remover todas as nossas coisas do “Fandas”. O Pindá Iate Clube, muito gentil, permitiu-nos o uso do píer, mesmo sem sermos sócios. Foi uma tarde inteira de trabalho, num vai-e-vem interminável, onde lotamos o carro e transportamos as coisas para casa três vezes!!! Nunca imaginei que seria tanto! E não acabou: ainda ficaram faltando algumas coisas. Dentro do Fandango, removendo tudo, fui “caindo na real”. Nossa casa flutuante dos últimos catorze meses e catorze dias, estava se desmanchando. Nós estávamos desmontando o objeto de nosso sonho e, conseqüentemente, o próprio. Foi a coisa mais difícil da viagem. Talvez mais difícil do que dobrar para o sul na saída do rio Paraíba, vendo os amigos dobrarem para o norte, momento decisivo da volta. Quanto mais o coração apertava, mais esforços eu fazia no transporte, para desapertar o coração. Eu e a Carol levamos o Fandango de volta à poita, onde ele esperará sua “roupa de regata” para voltar às raias, na sua melhor característica: “barco regateiro”! Deve estar com saudades! Mas não decepcionou nada como “barco casa” e nos levou em segurança absoluta, mesmo com algumas condições contra de mar e ventos, à realização de nosso sonho. As crianças irão fazer provas nas próximas duas semanas, para avaliar o rendimento do estudo do ano anterior e ver se têm condições de seguir com a turma antiga. Por outro lado, já estão sentindo nas aulas e diferença da “vivência” no estudo, quando discutem com os professores o clima do nordeste, relacionam osmose de transporte celular com osmose em barcos e dessalinizadores e falam dos “chapelões” de Abrolhos crescendo para a luz. Em apenas dois dias, já estou sentindo a Carol mais “mocinha”, talvez pelo contato com as amiguinhas, que estão bem mudadas. Sei que só saberemos a real dimensão dessa viagem em nossas vidas daqui a alguns anos, mas, tenho certeza, será positiva. Quanto a mim, estou colocando a casa em ordem e os negócios em dia. Desejo completar o site com muitas outras informações que me pedem sobre a viagem, principalmente valores (bom sinal, revela sonho com os pés no chão, principal característica para o “sonho” não virar “pesadelo”!). Novos sonhos já vão se delineando. Sempre gostei de trabalhar por objetivos e não por dinheiro e, graças a Deus, estes não faltam. Quero rever muitos amigos e parentes que ainda não pudemos encontrar. Quero receber muitos amigos, que nos receberam muito bem durante a viagem, para apresentar-lhes um pouco do nosso litoral norte paulista e sul do Rio. Esperamos ansiosamente a família Hagge, o Mauro e a Cristina, o Aurélio, a Simone, o Edgar, a Patrícia e a Pilar, a Soninha, o Antônio e a Rô, o Rogério e família, a Berê, a Esther, o Serginho e outros tantos amigos, que prometeram aparecer para nos ver. Como disse a Simone, “uma espiral de amigos”, que nos torna andarilhos, para aplacar a saudade do coração. E também torcemos para que Rodrigo, Márcia, Nick e Rafinha, Hugo, Gi e Talita, Torres e Eliza, Claudiney e Edélcio continuem aproveitando essa maravilha que é viver velejando e viajando por muito tempo, e que “o mar sempre os deixe passar”. Quem sabe, não nos encontraremos em breve por esse marzão de Deus (de preferência, sem as “correntezas nos fazendo esbarrar”, Gi!!!). Foi um ano feliz, muito feliz mesmo, que desejamos repartir com todos! Obrigado por terem “navegado” conosco.